quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Nunca é tarde para amar...


Nasci e cresci numa casa cheia de livros. Havia (e há) uma divisão que se tornou para mim fundamental e hoje, na minha casa, também o é - um escritório cheio de estantes com livros. Tenho uma fotografia em bebé com um livro na mão (virado ao contrário, é certo, mas o meu rosto tem um sorriso aberto :) ).
Desde pequena que os livros são presentes que me acompanham no meu aniversário e no Natal... Todos os anos, rumo à Feira do Livro e dou largas à minha paixão (e à bolsa) para adquirir mais alguns... O primeiro dinheiro que ganhei, gastei-o precisamente na Feira do Livro... O primeiro presente que dei ao meu sobrinho, antes mesmo dele nascer, foram livros... De facto, os livros povoam a minha vida. São amigos que me confortam, quando os leio, quando os compro, quando os dou ou, simplesmente, quando olho para as estantes, ou entro numa livraria para ver o que há de novo. Costumo até dizer, quando vejo na televisão alguma estante de livros em casa de alguém, que só pode ser boa pessoa, porque a verdade é que não concebo uma casa sem livros. Para mim são tão importantes como uma cama para dormir ou uma cadeira para me sentar, fazem parte da minha vida.
Além deste meu amor pela leitura, sou professora, professora de Português, e uma das minhas grandes batalhas é levar os meus alunos a perceber que um livro pode encerrar um mundo de aventuras, através dele podemos viajar para qualquer lugar, encarnar qualquer personagem, enfim... sonhar.
Finalmente, no ano passado, ao fim de alguns anos de carreira, uma das minhas turmas encantou-se com a leitura (ainda não sei exactamente como) e quase todos os 25 alunos leram um livro. Recordo um aluno que me disse, do alto da sua convicção de adolescente, que nunca tinha lido um livro e não ia ser agora que ia ler.... mas leu, não um, mas dois ("A identidade" de Milan Kundera e "Perfume" de Patrick Suskind). Este ano já leu mais um ("Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago). Fiquei orgulhosa. Não só por ele, mas por diversos outros leitores que foram enfeitiçados pela magia da leitura. No meio do entusiasmo que siderou a turma, numa visita de estudo de uma outra disciplina, foram encontrá-los quase todos, numa livraria do centro comercial onde tinham parado para almoçar. Fiquei fascinada!
Foi uma espécie de milagre que aconteceu depois de uma aula em que me limitei a levar alguns dos meus livros, dos livros da minha vida, e explicar porque é que foram importantes para mim. Um amigo e colega disse-me que nós, professores, falamos muito de como é importante ler, mas os nossos alunos não nos vêem a ler. Se calhar foi isso, os meus alunos vislumbraram algo na forma como lhes falei e mostrei os meus livros e como lhos emprestei e continuo a emprestar sempre que mos pedem - é como se o livro da professora tivesse alguma coisa de diferente dos outros... Peço apenas que cuidem deles com carinho e eles têm-no feito. Neste momento, alguns dos meus alunos até já me sugerem leituras.
Este é apenas o início do caminho, para o qual se pode despertar em qualquer momento da vida, pois se eu despertei em pequenina e os meus alunos na adolescência, uma das minhas bisavós despertou já na velhice e não foi tarde demais para passarmos momentos agradáveis e inesquecíveis a discutir as suas leituras.
Afinal, nunca é tarde para aprender a amar... nem mesmo no caso do amor aos livros.

3 comentários:

CICL disse...

Testemunho muito bonito... Continue a trabalhar para incentivar e aliciar os seus alunos e amigos para a leitura.

Unknown disse...

Como viver sem os livros????
Muitas vezes digo isso aos meus "besouros"...que me respondem que a Internet é que vale!!!!
Lembro-lhes que os livros nasceram antes da net...e que já existem e-books...mas não sei se os convenço!!!!
Sei o que é sentir essa imensa alegria de os ver a ler...ando a sentir algo parecido!!!!
A continuar!!!!!

IsaG disse...

Isto sim, é um exemplo. É que eles, os alunos, e qualquer criança, aprendem mais com o que nós fazemos do que com o que dizemos e ao mostrar, com vivacidade, que o fazemos, que lemos, cativa. As palavras sentidas têm mais valor e são retidas com mais facilidade e intensidade.
Parece que estou a ver a cena: A Margarida, à frente da turma, com um livro na mão a contar o que leu, viu e sentiu quando o leu. Claro, quando falamos com sentimento, os alunos captam, deixam-se contagiar.
Nós não percebemos como,porque estar com um livro é tão natural como comer, mas a verdade é que para muitos deles não.
Isabel Allende também está no topo das minhas preferências, entre outros.
Abraço