domingo, 31 de maio de 2009

As crianças

A Declaração dos Direitos da Criança foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 20 de Novembro de 1959 e diz o seguinte:

Preâmbulo

VISTO que os povos da Nações Unidas, na Carta, reafirmaram sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano, e resolveram promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla,

VISTO que as Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamaram que todo homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades nela estabelecidos, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição,

VISTO que a criança, em decorrência de sua imaturidade física e mental, precisa de proteção e cuidados especiais, inclusive proteção legal apropriada, antes e depois do nascimento,

VISTO que a necessidade de tal proteção foi enunciada na Declaração dos Direitos da Criança em Genebra, de 1924, e reconhecida na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos estatutos das agências especializadas e organizações internacionais interessadas no bem-estar da criança,

Visto que a humanidade deve à criança o melhor de seus esforços,

ASSIM, A ASSEMBLEIA GERAL

PROCLAMA esta Declaração dos Direitos da Criança, visando que a criança tenha uma infância feliz e possa gozar, em seu próprio benefício e no da sociedade, os direitos e as liberdades aqui enunciados e apela a que os pais, os homens e as melhores em sua qualidade de indivíduos, e as organizações voluntárias, as autoridades locais e os Governos nacionais reconheçam este direitos e se empenhem pela sua observância mediante medidas legislativas e de outra natureza, progressivamente instituídas, de conformidade com os seguintes princípios:

PRINCÍPIO 1º

  • A criança gozará todos os direitos enunciados nesta Declaração. Todas as crianças, absolutamente sem qualquer exceção, serão credoras destes direitos, sem distinção ou discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer sua ou de sua família.

PRINCÍPIO 2º

  • A criança gozará proteção social e ser-lhe-ão proporcionadas oportunidade e facilidades, por lei e por outros meios, a fim de lhe facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e normal, em condições de liberdade e dignidade. Na instituição das leis visando este objetivo levar-se-ão em conta sobretudo, os melhores interesses da criança.

PRINCÍPIO 3º

  • Desde o nascimento, toda criança terá direito a um nome e a uma nacionalidade.

PRINCÍPIO 4º

  • A criança gozará os benefícios da previdência social. Terá direito a crescer e criar-se com saúde; para isto, tanto à criança como à mãe, serão proporcionados cuidados e proteção especial, inclusive adequados cuidados pré e pós-natais. A criança terá direito a alimentação, recreação e assistência médica adequadas.

PRINCÍPIO 5º

  • À criança incapacitada física, mental ou socialmente serão proporcionados o tratamento, a educação e os cuidados especiais exigidos pela sua condição peculiar.

PRINCÍPIO 6º

  • Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, aos cuidados e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de segurança moral e material, salvo circunstâncias excepcionais, a criança da tenra idade não será apartada da mãe. À sociedade e às autoridades públicas caberá a obrigação de propiciar cuidados especiais às crianças sem família e aquelas que carecem de meios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manutenção dos filhos de famílias numerosas.

PRINCÍPIO 7º

  • A criança terá direito a receber educação, que será gratuita e compulsória pelo menos no grau primário.
  • Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la a, em condições de iguais oportunidades, desenvolver as suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral e social, e a tornar-se um membro útil da sociedade.
  • Os melhores interesses da criança serão a diretriz a nortear os responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais.
  • A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito.

PRINCÍPIO 8º

  • A criança figurará, em quaisquer circunstâncias, entre os primeiros a receber proteção e socorro.

PRINCÍPIO 9º

  • A criança gozará proteção contra quaisquer formas de negligência, crueldade e exploração. Não será jamais objeto de tráfico, sob qualquer forma.
    • Não será permitido à criança empregar-se antes da idade mínima conveniente; de nenhuma forma será levada a ou ser-lhe-á permitido empenhar-se em qualquer ocupação ou emprego que lhe prejudique a saúde ou a educação ou que interfira em seu desenvolvimento físico, mental ou moral.

PRINCÍPIO 10º

  • A criança gozará proteção contra atos que possam suscitar discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza. Criar-se-á num ambiente de compreensão, de tolerância, de amizade entre os povos, de paz e de fraternidade universal e em plena consciência que seu esforço e aptidão devem ser postos a serviço de seus semelhantes.

in http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_dos_Direitos_da_Crian%C3%A7a


... Pena é que, 50 anos depois, ainda haja crianças sem direitos, sem direito a sorrir...


terça-feira, 26 de maio de 2009

A Noiva Italiana

Esta foi uma das minhas aquisições na Feira do Livro de Lisboa deste ano, um daqueles livros que me veio parar às mãos. Passei, vi a capa, o título e a autora (também de Caffe Amore que li e de que gostei) e... não resisti, trouxe-o comigo.
Por circunstâncias imprevistas, estou em casa de perna estendida (devido a lesão do joelho) e, hoje à tarde, peguei nele e li-o, de uma ponta à outra.
Nem sei bem por onde começar, mas devo dizer que é um livro... de alma italiana, tudo cheira a Itália! Pieta (assim mesmo, "piedade"), personagem principal, estilista de vestidos de noiva, a sua irmã Addolorata ("dor", as irmãs de nomes tristes, como diz uma personagem a dada altura), Beppi, o pai, Catherine ("Caterina") a mãe, conduzem-nos pela história e pela vida dos Martinelli. Conhecemos e quase saboreamos os pratos de Beppi (com direito a receitas e tudo), fazemos uma viagem à boleia de Londres a Roma, quase ouvimos segredar ou algaraviar em italiano, passeamos pela Toscana, por Roma, regressamos a Londres, sempre com a Itália no sangue. É isso mesmo, como se Itália nos entrasse no sangue!
Adorei a história, as duas histórias dentro da história, viajei com as personagens (até porque conheço alguns dos locais, foi como se lá voltasse!!), emocionei-me com elas, sonhei com elas.
É um livro agradável, saboroso, que dá cor ao dia e nos permite viajar um pouco pela "bela Italia"! Um livro de alma italiana! Gostei bastante!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Até para o ano!

E lá se foi mais uma Feira do Livro de Lisboa... Ontem à tarde, era um mar de gente a circular pelo Parque Eduardo VII, por entre os stands coloridos das editoras, com um dia ensolarado e uma brisa no ar. Não andavam só a ver, compravam livros, uns atrás dos outros. Eu sorria aos comentários que ouvia de passagem - "e é isto um país de analfabetos..."; "eu até comprava mais, mas tenho que parar, porque já estoirei o orçamento!".
Havia gente por todo o lado, mas a praça Leya estava literalmente a abarrotar, já que tinha um espectáculo de fantoches e vários autores a dar autógrafos. Devo dizer que o espaço da Leya, com pouca gente, é interessante, mas assim estava sufocante, pior que um hipermercado em final do mês. Talvez seja a minha resistência à mudança, mas eu ainda prefiro serpentear pelos stands ao longo do Parque e espreitar os livros em cada um deles, com um banco ou outro no intervalo, ou uma pequena esplanada, do que aquele espaço concentrado que tem excelentes oportunidades de compra, mas onde, em dia de enchente, mal se pode respirar.
E nesta minha última incursão pela Feira do Livro de Lisboa deste ano, lá tive que fazer mais um pequeno estrago....


...trouxe estes dois comigo (por bom preço, diga-se de passagem) - Enquanto Salazar Dormia de Domingos Amaral, porque uma amiga, conhecendo os meus gostos de leitura, disse-me que eu iria adorar; Bons Sonhos Meu Amor de Dorothy Koomson, porque li A Filha da Minha Melhor Amiga e gostei e tenho lido boas críticas a este novo livro. E, pronto, a minha estante está cada vez mais cheia, eu não consigo ler à velocidade que gostaria, porque tenho compromissos profissionais a cumprir, mas este vício dos livros é o que dá.
E lá se foi mais uma Feira do Livro de Lisboa. Para o ano haverá mais, mas para os profetas que dizem que o livro em suporte de papel está esgotado, tenho más notícias - não está , não senhor. Ocupa mais espaço que os CDs, enche as estantes, ganha pó que dá um trabalhão a limpar... mas é um prazer ter um destes amigos nas mãos, com as suas cores, texturas e cheiros. Ah, e pelo que vi ainda tem, pelo menos, umas boas centenas de fãs... e só na zona de Lisboa, fará no resto do país!
É sempre um prazer cumprir esta minha romaria anual. Adeus, até para o ano!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

De Profundis, Valsa Lenta


Li este livro há 12 anos (no ano em que foi publicado - 1997), agora voltei a pegar nele e, mais uma vez, impressionou-me. Desde o prefácio do Prof. João Lobo Antunes ("Carta a um amigo-novo") até ao final, "Entrelinhas duma Memória", pelo próprio José Cardoso Pires, tudo se lê de fio a pavio.
Mais do que um livro, é um testemunho ímpar de uma situação limite, em que qualquer um de nós se pode encontrar, mas relatada pela pena magistral de Cardoso Pires.
E se, de repente, por um acidente orgânico, nos encontrássemos despersonalizados, perdida a memória e o passado? É um relato escorreito e fácil de acompanhar, como se estivéssemos ao lado do homem, o indivíduo, José (Cardoso Pires), quais seres invisíveis. Sim, porque o sentimos como se estivéssemos lá, sentimos a dúvida, a interrogação "O que restaria de mim no homem que ficou para ali estendido à espera de coisa nenhuma?", "Sem nome e sem assinatura este que eu sou entre paredes dum hospital encontra-se numa paisagem anónima com gente anónima (o pessoal, os visitantes). Sem nome, vejam só".
A situação, o AVC, o escritor viveu-a em 1995 e só dois anos depois, com a escrita deste livro, deu "por encerrada para sempre a minha viagem à desmemória, arquivando-a nestes apontamentos escritos à deriva por indícios trazidos na corrente." O livro foi um sucesso, galardoado com prémios, o escritor deu entrevistas, testemunhou de viva voz esta "viagem" pela desmemória... um ano depois partiu para sempre, na sequência de novo acidente orgânico.
Aquando da partida do escritor, dei comigo a pensar que foi como se lhe tivesse sido dado o tempo suficiente para escrever este seu testemunho, como se fosse essa a sua missão derradeira. Hoje, quando volto a este livro, esse pensamento reforça-se e torna-se quase uma certeza. Diria mesmo que era preciso José Cardoso Pires escrever este livro, era de facto a sua missão antes de partir e, na minha opinião, cumpriu-a com distinção.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A um amigo...


Na viagem que fiz na Páscoa ao Nordeste brasileiro, fiz questão de trazer comigo livros. Assim, no Midway, shopping moderno em Natal, na livraria Siciliano, vaguei os olhos pelas prateleiras e descobri esta Antologia Poética do mestre (ou o "poetinha" como ficou conhecido) Vinicius de Moraes. Não resisti. É uma antologia organizada pelos poetas Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz, publicada originalmente em 2003. Nesta obra, "Vinicius chega ao século XXI como o autor de uma poesia viva e apaixonada", ou não fosse este o autor do célebre verso "que seja infinito enquanto dure".
Pois de regresso a este lado do Atlântico, ao desfolhar e saborear alguns dos poemas, encontrei um que me parece adequado a um amigo lusitano que conheci no Brasil e parte em breve para Nova Iorque. É para ele este poema do grande Vinicius:


Crepúsculo em New York

"Com um gesto fulgurante o Arcanjo Gabriel
Abre de par em par o pórtico do poente
Sobre New York. A gigantesca espada de ouro
A faiscar simetria,ei-lo que monta guarda
A Heavens,Incorporations. Do crepúsculo
Baixam serenamente as pontes levadiças
De U.S.A. Sun até a ilha da Manhattan.
Agora é tudo anúncio,irradiação,promessa
Da Divina Presença. No imo da matéria
Os átomos aquietam-se e cria-se o vazio
Em cada coração de bicho,coisa e gente.

E o silêncio se deixa assim,profundamente...

Mas súbito sobe do abismo um som crestado
De saxofone,e logo a atroz polifonia
De cordas e metais,síncopas,arreganhos
De jazz negro,vindos de Fifty Second Street.
New York acorda para a noite.Oito milhões
De solitários se dissolvem pelas ruas
Sem manhã. New York entrega-se.

Do páramos
Balizas celestiais põem-se a brotar,vibrantes
À frente da parada,enquanto anjos em nylon
As asas de alumínio,as coxas palpitantes
Fluem langues da Grande Porta diamantina.
Cai o câmbio da tarde. O sublime Arquiteto
Satisfeito,do céu admira sua obra
A maquete genial reflete em cada vidro
O ôlho meigo de Deus a dardejar ternuras.
Como é bela New York! Aço e concreto armado
A erguer sempre mais alto eternas estruturas!
Deus sorri complacente. New York é muito bela!
Apesar do East Side, e da mancha amarela
De China Town, e da mancha escura do Harlem
New York é muito bela!

As primeiras estrelas
Afinam na amplidão cantilenas singelas...
Mas Deus,que mudou muito,desde que enriqueceu
Liga a chave que acende a Broadway e apaga o céu
Pois às constelações que no céu esparziu
Prefere hoje os ersatze sôbre La Guardia Field."

in Nova Antologia Poética 2003 Vinicius de Moraes, Companhia das Letras (p.137-138)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Per aspera ad astra

Desde que descobri esta máxima latina que gosto dela. Para além da sua fantástica sonoridade - PER ASPERA AD ASTRA -, há o significado (por caminhos árduos, até às estrelas). É uma frase que define a forma como vejo a vida - às vezes encontramos caminhos sinuosos e difíceis, mas haverá sempre um caminho luminoso à nossa espera, uma clareira onde possamos descansar e retemperar forças para continuar. A seguir a uma íngreme montanha, surgirá um agradável planalto... Mas, às vezes, é tão difícil encontrar forças para continuar a subir...
Tenho amigos que neste momento estão a fazer essa difícil caminhada e eu queria conseguir-lhes mostrar a clareira ou o planalto que os espera, mas não consigo, porque o tempo está muito nublado e a visibilidade é pouca.
Resta-me acreditar por eles e procurar manter aberta a porta da esperança, para que a luz vá entrando a pouco e pouco e eles possam ver as estrelas lá em cima no céu, sempre luminosas e altaneiras, imperturbáveis e à espera que as alcancemos. A vocês, meus amigos, quero apenas dizer que as minhas melhores energias estão convosco.


sexta-feira, 8 de maio de 2009

A Profecia Celestina

Na segunda entrada que escrevi neste blog, disse que falaria aqui dos livros que me viessem parar às mãos, os que encontrassem o caminho até mim e foi precisamente o que me aconteceu com este livro.
Noutra altura da minha vida talvez não me tivesse despertado a mínima atenção, mas, a pouco e pouco, cruzou-se no meu caminho. Lembro-me vagamente de uma amiga me ter falado neste livro... não liguei. Um aluno perguntou-me se já tinha lido, respondi que não. Até que, já não sei a que propósito, uma outra amiga falou-me precisamente neste livro. Disse-me que ele despertava sentimentos contraditórios. Uma pessoa que ela conhece odiou o livro e outra adorou-o, considerando-o quase uma Bíblia, quanto a ela, viu-o como um livro de ficção, mas com aspectos que a fizeram pensar - como a afirmação de que as pessoas que se cruzam nas nossas vidas trazem-nos sempre algo de novo, de especial. Fiquei a pensar naquilo... mas depois esqueci. Passadas umas semanas, num hipermercado, ao passar pela incontornável secção dos livros, deparei-me com o dito cujo livro - e pronto, comprei-o. Comecei a lê-lo, fui lendo a pouco e pouco, como se o saboreasse, julgo eu. Uma espécie de terapia, de paragem diária para reflexão.
Agora que estou prestes a chegar ao fim e já conheço parte da nona revelação, concluo que é um livro interessante. Não uma Bíblia, não um livro que odeie, mas definitivamente um livro que faz pensar e isso, quanto a mim, é bom! Um livro que dá uma imagem positiva da evolução espiritual da humanidade, que nos faz acreditar no ser humano e no seu lado bom ("No próximo milénio" - este que vivemos - "a vida ter-se-á tornado uma coisa totalmente diferente daquilo que é hoje." "um mundo humano onde toda a gente vive a um ritmo mais lento e se tornou muito mais atenta").
Quanto às teorias que defende, são muitas, algumas mais controversas que outras - em relação ao facto de defender que as pessoas que se cruzam connosco na vida têm sempre algo para nos dar - concordo, afinal a vida é uma aprendizagem permanente, podemos é não estar dispostos a aprender. No que diz respeito às coincidências que na história se defende que não existem, o que existe é um plano maior que permite essas mesmas coincidências, é mais controversa, mas a verdade é que nos pode pôr alerta para pormenores a que noutra ocasião não dariamos atenção.
O balanço que faço é, então, muito positivo, porque é um livro a que não se fica indiferente e que nos faz dar valor à vida e ao ser humano, independentemente da qualidade que possa ou não ter como obra literária. Gostei!

P.S. - Acrescento apenas, a título de curiosidade, que escrever este comentário foi difícil. Ao longo da leitura do livro, surgiram-me mil ideias, mas, quando decidi escrevê-las, foi complicado. Até nisso para mim foi um livro diferente.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Parabéns, avozinha!

A minha avó adorava flores. Dizia que lhas déssemos em vida, porque depois de morrer chegava-lhe uma ou duas. Recebia-nos quase sempre com um sorriso nos lábios, embora também se zangasse e ralhasse, muitas vezes com razão. Gostava das crianças e dos animais. Gostava de pessoas e as pessoas gostavam dela. Era, por natureza, uma pessoa terna, daquelas que amamos instintivamente, daí que tivesse muitos amigos. Quando saía à rua, encontrava sempre alguém a quem dar um sorriso, um “bom dia” ou “boa tarde” ou até dois dedos de conversa. Não sabia estar parada, dizia que “parar é morrer” – e tinha razão.

Era uma mulher de personalidade forte, uma lutadora, que, apesar de todos os reveses da vida (e teve bastantes), soube sempre manter o amor à vida, uma força imensa e um optimismo invejável. Interessava-se pelos seus, pelos outros e por aquilo que se passava no mundo. Sempre nos ensinou, a mim e ao meu irmão, que havia meninos a sofrer pelo mundo fora, meninos que tinham muito menos do que nós, que precisavam de amor, de alimento e segurança. Exerceu sempre o seu direito de voto, lembrava os tempos difíceis da sua juventude como lições de vida, mas sem nunca se perder em devaneios, alertando que o passado era importante, mas a vida era em frente. Foi uma esposa paciente (muito paciente) e compreensiva (com os seus momentos de contestação), uma mãe e avó amorosa (mas também refilona, sempre que achava que tinha razão), uma vizinha prestável, uma amiga sincera… uma luz nas nossas vidas.

Se fosse viva, a minha avó, a minha avozinha, Maria Vitória de seu nome, faria hoje, 5 de Maio, 83 anos. Partiu há dois anos, muito cedo ainda para quem tinha tanto para dar. Deixou-nos o seu sorriso, a sua força, a sua voz doce e firme que ainda oiço ("à avó podes contar tudo"). Partiu, mas a sua luz não se extinguiu. Mudou de matéria, mas acredito que continua a guiar-nos... algures ao nosso lado. Parabéns, avozinha!

domingo, 3 de maio de 2009

Dia da Mãe


Neste dia especialmente dedicado às mães, presto a minha homenagem à minha mãe e à minha avó (que está algures a velar por nós e a sorrir-nos) e estendo-a a todas as mães que o são de facto, de alma e coração. Mais uma vez, calo-me e dou a palavra ao poeta… Eugénio de Andrade:



POEMA À MÃE

“No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
‘Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...’

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.”

in «Os Amantes Sem Dinheiro»



sábado, 2 de maio de 2009

Feira do Livro de Lisboa - a minha romaria

Ontem fui à Feira do Livro de Lisboa. Fui cumprir a minha romaria anual. Desde que me lembro de ser gente que frequento a Feira do Livro, todos os anos, faça chuva ou faça sol. As vezes que lá vou em cada ano é que variam, mas tenho sempre que ir lá pelo menos uma vez, daí que a encare como a minha romaria anual.
Quando era pequena, era como uma festa, onde ia com os meus pais e, no dia da criança, era sempre premiada com um livro da Feira do Livro.
No meu tempo de Faculdade, faziamos um percurso que incluía, muitas vezes, uma passagem pela Feira, só para ver, para comprar ou simplesmente para nos sentirmos envolvidos por aquele ambiente especial, naquele magnífico Parque Eduardo VII.
Ontem à noite a Feira tinha pouca gente, mas era ainda o segundo dia e não estamos em Junho, mas no início de Maio, o que significa que o clima também não é tão propício a um passeio nocturno. Mesmo assim, estava agradável, andavam por lá uns resistentes e eu gostei bastante. Os pavilhões novos são engraçados, é uma autêntica terapia poder serpentear pelos pavilhões, ver os livros, mexer-lhes, comprá-los (uma tentação, mas que se pode transformar numa catástrofe financeira).
Por falar em compras, lá tive que comprar alguns, mais concretamente sete:



"Biografia" e "Fotobiografia de Salgueiro Maia" - afinal tanto que se fala do capitão de Abril e, na prática, sei muito pouco sobre ele e aproveitei a promoção dos livros do dia.



"Feminino Singular" de Sveva Casati Modignani - o único da autora que ainda não tinha - mais uma história de mulheres fortes.


"A Noiva Italiana" de Nicky Pellegrino - a Itália é sempre para mim motivo de atracção, tenho um fascínio irresistível por aquele país, além de ter lido e gostado do "Caffé Amore" do mesmo autor.


O tão badalado "O Leitor" de Bernhard Schlink de que tenho lido tantas críticas favoráveis neste mundo dos blogs literários.


"Mágoas da Escola" de Daniel Pennac, incontornável para quem abraçou a minha profissão.




"Zahir" de Paulo Coelho, sugestão de um amigo que gosta de reflectir sobre a vida e o destino.


E esta foi apenas a primeira vez que lá fui este ano... Se lá for mais vezes, como planeio, ou levo dinheiro à conta, ou deixo a carteira em casa :) . É que este vício da leitura faz um rombo nas minhas finanças!